O amor e o hoje

12/12/2014 17:42

           Certa noite de sábado, desprovido de quaisquer coisa útil para fazer, e tão solitário quanto um o último tomate da feira, decidi aventurar-me em busca de amores virtuais, coisa que não recomendo ninguém a fazer. O por quê? Dois motivos, um é que dificilmente alguém é quem realmente é e outro é que quando você se apaixona, descobre que a pessoa mora no Cambója.

           Entrei em uma dessas salas de bate-papo virtual com o apelido de "O cara_139". Observei a enorme lista de apelidos e usei uma velha tática, mandei um convite para todas as mulheres (eu acho porque tem sempre um engraçadinho que usa um apelido feminino). Das dezenove, sete me aceitaram. Mandei um oi, quatro responderam, dessas quatros duas sairam, e das duas, só uma tinha um papo legal.

           O nickname dela era "Jasmine_19". Da mesma forma que eu, curtia rock, filmes de suspense, e também estava de bobeira. Pelo menos na foto do perfil estava bonita, mas vai saber na vida real. Sempre achei que as pessoas deviam colocar como foto de perfil, essas 3x4 que tiram para os documentos, porque possa até ser que a gente saia feio de doer, mas ela mostra como realmente somos.

           Nossa conversa foi além de um simples e convencional "oi", pelo menos era isso que dava a entender os 122 caracteres "k" presentes na sala. Procurei não mentir muito ao meu respeito, afinal, quem nunca contou uma vantagem ou outra em uma conversa virtual?

           Não demorou muito para que começassemos a trocar poesias (ctrl+C e ctrl+V) e aquelas carinhas amarelas com os olhos de coração. Por que no mundo real não é simples assim? Mas logo me lembrei de que as chances de um relacionamento der certo, são as mesmas de você ganhar na loteria: você pode tentar toda semana, mas isso não quer dizer que vai ser assim tão fácil.

           O papo estava até legal, quando ela perguntou:

– Você realmente me ama?

– Amo- respondi.

– Se casaria comigo?

– Com toda certeza...

– Ótimo, tou indo para sua casa!

– Você sabe onde eu moro?! - recrutei espantado.

– Sou sua vizinha...

 

– E como eu nunca te vi por perto?

– Você veria se saisse por dois segundos da frente desse computador.

            Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, o ícone dela havia mostrado que ela tinha saido. Levei as mãos ao rosto sem acreditar nisso, não demorou muito para que ouvisse a campainha tocar: Ding! Dong!

           Quase cai da escada que ligava o meu quarto a sala, não tive tempo sequer de trocar de roupa, minha aparência estava quase igual a de um havaiano. Atendi a porta e lá estava ela, perdi o sentido por alguns segundos, mas recuperei assim que ela perguntou se podia entrar. Abri passagem e disse para ela ficar a vontade.

           Nos sentamos no sofá e continuamos a conversa. Era incrível, parecia que nos conheciamos a muito tempo, acabamos por assistir um filme (suportei duas horas de crepúsculo) e nos empanturrar de bobagens. Acabou que passamos toda a noite juntos, a primeira de muitas...

           De fato, acabei me casando com ela, até mesmo porque uma chance como essa só se tem uma vez na vida. Mas nem sempre dá certo, isso muito de meus amigos já são testemunhas (ou melhor dizendo: cobaias).

Percebi que o amor e a forma de se apaixonar evoluiram, se foi para pior ou melhor, deixo ao critério de vocês.


Neudson Nicasio