Na sala de espera

05/09/2015 19:15

Tentava inutilmente me convencer que não sentia medo de estar ali, mas tudo naquela sala tinha um tom de filme de terror. Um quadro pendurado na parede mostrava um sorriso enorme e esquisitamente branco. A luz da sala era meio amarelada e havia cheiro de produtos de limpeza no ar. Duas crianças chorando desesperadas faziam a trilha sonora do ambiente (e que trilha!). O barulho que vinha da sala não era mais agradável que o choro das crianças, parecia ser de uma sessão de tortura, gritos e gemidos entre um agudo e demorado som, que só podia ser de uma furadeira elétrica. As minhas mãos suavam. Abri duas ou três revistas tentando bloquear os pensamentos de angustia que começavam a tomar forma, mas não adiantou. A recepcionista era uma figura que combinava bem com o ambiente, uma senhora com cara de poucos amigos e que parecia o barqueiro de Hades. Cada segundo ali estava me deixando cada vez mais desesperado. A porta se abriu. A recepcionista com um ar de satisfação chamou o próximo. Levantei-me e agradeci muito a Deus por não ser eu o infeliz da vez. Ser motorista não é ruim, mas detesto precisar esperar o filho do patrão sair do dentista.

 

Ricardo Milhomem