Eterna presença

30/08/2015 00:35

     Enquanto as mãos enchaminhavam-se de escrever aquilo que as palavras não conseguiam, as lágrimas apressavam-se em transbordar sobre o papel, assim como a chuva cai sobre a terra infértil. Acompanhada da solidão, avistava apenas os cômodos apertados e o velho violão que há muito tempo não apresentava os mesmos acordes e melodias. As lágrimas que não conseguiam cessar foram transformadas em pigmentos de sangue; da dor de ser inútil e invisível, das lembranças do passado e das inseguranças e medos futuros. Frequentemente as ânsias se manifestavam, mas em decorrência disso, observou que seus tormentos foram minimizados, a cruz que pesava em seus ombros passou a ser carregada por um homem simples, de sorriso amável e de um olhar vívido. E depois, vi que em suas mãos haviam as marcas profundas, que seus ombros eram desgastados e surrados, não pela idade, mas pelo peso dos sofrimentos que há muito tempo se encarregou de fazer parte da sua realidade. Mas algo chamou atenção; seu choro se transformava em alegria e seu sorriso transbordava de um amor que me fez emudecer. A partir dalí, meus dias não foram mais os mesmos. Aqueles gestos foram o bastante para fazer os meus dias valerem a pena ; enquanto esperava por palavras, Ele, apenas com um olhar, fez da ausência a eterna presença.

 

Daniela Cavalcante